27/07/2008

Arquitectura da poupança energética

Apesar de muito falado, o conceito de Poupança Energética está recheado de equívocos e alguns mitos.
Vamos então analisá-lo de forma simples de modo a compreendermos melhor o seu significado.
A Poupança Energética é um conceito simples mas que deve ser sempre analisado num contexto global. Isto é, depende de 5 factores:

I - Dimensão, orientação das janelas e seus sistemas de protecção contra a radiação (palas, estores ou portadas exteriores).
II - Composição das paredes, chão e cobertura.
III - Tipo de electrodomésticos na casa.
IV - Tipo de sistema de climatização e de aquecimento de águas que a casa possui.
V - Existência de produção autónoma de energia.

I - Dimensão, orientação das janelas e seus sistemasQuanto ao pimeiro factor, quando temos uma casa com janelas pequenas para sul e grandes para norte, bestial! Nem preciso de proteger nada. Se não for assim, já tenho gastos energéticos acrescidos senão quiser aguentar o frio ou o calor em demasia. No entanto, quando uma casa já está construída, as alterações são caras e morosas. Como é obvio não podemos mudar uma janela de sul para norte em três tempos... Podem-se apenas reduzir gastos (Verão) com a introdução de protecções à radiação como sento toldos, estores ou portadas nas janelas...etc. Quanto à alteração dos caixilhos e vidro, esta só é eficaz se a parede possuir um bom nivel de isolamento. Senão, só se arranjam problemas ao melhorar o comportamento térmico das janelas. Isto é, surgirão condensações e o consequente aparecimento de fungos nas paredes das casas em que os caixilhos foram substituídos por uns melhores e as paredes continuaram sem isolamento térmico...

II - Composição das paredes, chão e cobertura
Quanto ao segundo factor, se eu tenho uma casa com parede dupla (a chamada caixa de ar) ou com parede simples mas com placas de poliestireno por fora ou por dentro, bestial! Não preciso de fazer nada. Se não for assim, já possuimos gastos que não deveriamos possuir para climatizar a casa. Para alterar o desempenho da parede é que já é mais complicado... Primeiro, só vale a pena alterar a composição de uma parede se colocarmos uma caixilharia com o mesmo grau de isolamento. ( A razão é a mesma que descrevemos acima.) Segundo, só vale a pena melhorar as paredes exteriores se estas forem relativamente lisas. Isto porque, só assim é que temos custos de obra reduzidos. Senão, não vale a pena. O mesmo se aplica à cobertura e ao chão do piso mais inferior.

III - Tipo de electrodomésticos na casa
Quanto ao terceiro factor, este é o mais fácil de perceber. Um frigorífico de eficiência "A" gasta menos que um de "B" e assim sucessivamente...Um equipamento que possua "stand by" gasta mais que um que não possua etc... Uma lampada encandescente é menos eficiente que uma fluorescente...etc..

IV - Tipo de sistema de climatização e de aquecimento de águas
Quanto ao quarto factor, trata-se do modo como nós aqueçemos ou arrefeçemos a casa e a água que usamos. Aqui existem sistemas que são ou não adqequados em função da casa e dos seus espaços exteriores.
Existem vários sistemas eficientes de climatização a partir de energias renováveis: solar termodinâmico, geotérmico e aerotérmico.

a) Solar termodinâmicoPor exemplo, quando temos telhados com a inclinação de 30º virados a sul, podemos com dois paineis de 1x2m aquecer a água da minha casa sem gastos e baixar a factura do aquecimento dos espaços interiores. Este sistema trabalha em simbiose com um recuperador de calor ou aquecimento a gás. (Embora um recuperador de calor ou o gás já não sejam energias renováveis).
Este sistema só dá para aquecer.

b) Geotérmico
Mas se uma casa tiver muito poucas horas de sol, o anterior sistema já não serve. Teremos de tentar a energia geotérmica. Trata-se do princípio do radiador do carro. ( Uma rede de tubos passa por uma zona mais quente/fria e transporta essa temperatura para a zona que queremos aquecer/arrefecer. Dentro do geotérmico temos dois sistemas: um furo vertical no chão (caro mas a única opção quando não temos muito terreno) e uma rede no jardim (mais barato mas precisamos de ter um campo de 300m2 livre).

c) Aerotérmico
O princípio é semelhante ao geotérmico, no entanto aquilo que me parece é que apresenta uma factura de energia electrica demasiado elevada. É barato inicialmente. No entanto tem custos mais próximos do ar condiconado. Não está ainda muito testado.

V - Existência de produção autónoma de energiaO último factor trata-se da existência ou não de geradores de energia numa casa. Isto é, qualquer pessoa pode produzir a sua energia. Tem é de fazer um investimento inicial e esperar os anos necessários para rentabilizá-lo.
O gerador de energia não é uma invenção recente. (Qualquer empreiteiro tem um gerador a gazóleo). O que é recente são os geradores "caseiros" eficientes com fontes de energia renováveis.
Existem hoje geradores "caseiros" eficientes para: energia eólica, energia solar (fotovoltaico) e energia hídrica.

a) energia eólica
Exitem vários tamanhos e potências distintas. O investimento que compensa pela certa ronda os 20 000 euros. É já bastante grande. Só vale a pena depois de um estudo do vento no local. Tem a vantagem de produzir energia todo o dia e vender energia à rede. Para quem tem 20 000 euros e um lugar cheio de vento pode ser mesmo um bom negócio.

b) energia solar (fotovoltaico)
Também é caro mas ajústável à potência que a casa consome. Isto é, podemos ter mais ou menos paineis. Só se produz energia durante o dia. Temos é de programar a climatização da mesma forma, ou seja, gastar durante o dia e não gastar à noite.

c) energia hídrica.Porreiro, mas é preciso ter um riacho. Tem uma exelente eficiencia. Idêntico ao eólico.


Conclusão
Basicamente os geradores e os sistemas renováveis só são rentáveis porque as pessoas com IRS dos escalões mais elevados e as empresas no IRC têm a possibilidade de as apresentar como despesas e reduzir assim a sua carga fiscal. Senão, o preço do investimento não compensaria a poupança futura a curto prazo.
Existem várias empresas a fornecer estes produtos, mas nem todas têm os produtos homologados. E se não estiverem homologados, adeus descontos no IRS ou IRC...
Como se pode ver este assunto não é directo. É preciso sempre analisar caso a caso para que não se dupliquem recursos. Por exemplo, se temos geotérmico, não precisamos de solar termodinâmico. Ao mesmo tempo se possuirmos muita energia eléctrica a partir de solar fotovoltaico já só colocamos ar condicionado e temos a climatização resolvida sem gastos...