03/04/2016

O jardim Interior


A natureza no espaço construído
A História da arquitetura moderna do século XX foi profundamente marcada por uma busca contínua de uma relação com a natureza mais clara. A arquitectura tentou abrir-se ao sol e à natureza, criando janelas horizontais, estruturas porticadas leves no rés do chão, etc... O betão armado foi fundamental para permitir este objectivo.
Contudo, pouco se fala do facto de se ter procurado também integrar o jardim dentro da casa. Ora esse processo teria sido impossível sem as plantas de sombra e sem uma em particular: o filodendro.

O filodendro
Esta planta é absolutamente extraordinária, mesmo dentro da familia das espécies indicadas para zonas sombreadas. É de uma resistência inigualável em zonas pouco iluminadas e se o sol for muito incidente as suas folhas chegam mesmo a ficar amarelas. Imensas espécies pertencem a esta família, umas trepam, outras não, umas têm a folha reticulada, outras uniforme, algumas sobem a três metros, outras são praticamente rasteiras para vasos, mas todas partilham estas características resilientes.

O jardim interior dentro de casa
No século XIX foi muito comum o aparecimento de estufas, invernadeiros ou também chamados de jardins de inverno. Mas estas estruturas obrigam a um controlo de temperatura e humidade e não permitiam um conforto suficiente para serem habitadas em permanência.
Ora, o filodendro serviu precisamente este propósito pois trata-se de uma planta que sem muitos cuidados adapta-se perfeitamente ao ambiente de uma sala ou corredor, quer ao nível de humidade, da temperatura e da radiação solar. Finalmente podíamos ter um jardim dentro de casa!

O papel do filodendro na arquitectura moderna
E muitos arquitectos das vanguardas modernistas aproveitaram estas características do filodendro, desde Corbusier, Aalto, Neutra entre outros. A casa não só se abria ao exterior, mas também deixava-se invadir pela natureza no seu interior. O filodendro trazido inicialmente para as estufas, depois pelos pintores como Matisse, ou Gauguin, entrava agora nas casas burguesas pela mão dos arquitectos.


A importancia do filodendro na história da arte
Recentemente o Wolfsonian em Miami apresentou uma exposição denominada
Philodendron com curadoria de Christian Larsen. O seu subtítulo Do Exótico Pan-Latino ao Americano Moderno, mostra a vontade de ilustrar a importância de pintores, arquitectos e designers na divulgação das propriedades desta floresta dentro de casa.

Filodendro

Ray & Charles Eames - Interior de Pacific Pallisades

Richard Neutra - Casa Josef Von Sterberg

Le Corbusier - Unidade de Habitação em Marselha

Henri Matisse - Interior com folhas - 1935

Roberto Burle Marx - Natureza morta com philodendron I - 1943



06/02/2016

A casa ecológica de adobe

Uma perspetiva ecológica sobre a construção
Uma casa ecológica pressupõe o usos de técnicas construtivas com baixo consumo energético. Ora a resposta a esta questão encontra-se à mão de semear na arquitetura popular portuguesa. Nesta, a escassez de recursos disponíveis e a contingência geraram processos pragmáticos e altamente eficientes. Assim, a casa da arquitetura popular é sem dúvida a casa ecológica por natureza.
Neste sentido, existem muitos processos construtivos que se poderiam abordar como a taipa, o tabique e muitas das alvenarias tradicionais. Mas hoje julgo ser importante começar a falar um pouco da construção em adobe.

O que é o adobe?
O adobe  é um conjunto de pequenos blocos com forma regular.  O seu material é constituída por uma argamassa de barro e areia. Estes blocos são posteriormente cortados com a forma final de um tijolo e deixados a secar ao sol. Pode ser usado um molde de madeira para obter uma forma mais regular.
É tradicionalmente uma construção pobre, mas existem exemplos eruditos e monumentais.
No fundo, imagine-se a quantidade de energia que é necessária para produzir e transportar os tijolos atuais!
Ora no adobe, a energia utilizada é a solar.
Para as propriedades estruturais do adobe ser maximizadas necessitamos de uma armadura, Ora a introdução de vigas de madeira nas suas paredes permitem que estas adquiram comportamentos superiores. O usos da abóboda e do arco são também opções neste processo construtivo tradicional.

Exemplos do uso do adobe na Arquitetura Portuguesa
Existem edifícios eruditos totalmente construídos com adobe. Este é o caso do edifício Paços do Duque de Bragança em Vila Viçosa. Outros são monumentais como o caso do convento de Santo António em Loulé, mas a generalidade é a construção de casas de arquitetura popular no Alentejo.


Casa de Adobe no Alentejo

Convento de Santo António em Loulé

Paços do Duque de Bragança em Vila Viçosa