05/08/2019

Climatização Ecológica

Nos últimos anos tem havido um crescente exagero na utilização dos sistemas mecanizados de renovação de ar e climatização. Por um lado foi introduzida legislação que obriga as casas e equipamentos a renovar o ar de modo mecânico contrariando os princípios mais elementares de redução da nossa pegada ecológica. Por outro lado tem havido uma crescente pressão para a utilização de sistemas de arrefecimento através de equipamentos seja por imperativos legais, seja pelo desconhecimento de sistemas alternativos.

Climatização ecológica com arrefecimento passivo
Ora, é precisamente do desconhecimento que pretendo falar. Na realidade, os arquitectos, os engenherios e os legisladores desconhecem as possibilidades alternativas no que diz respeito à climatização passiva. 
Ora é perfeitamente possivel criarmos zonas de fachada com zonas de sobreamento e consequentemente protegidas da radiação solar. Essas zonas sombreadas vão possuir temperaturas inferiores. Se estas estiverem em contacto com o interior e o interior possuir pequenas aberturas na fachada oposta, desencadeia-se uma corrente de ar que permite o arrefecimento. O ar destas zonas mais frias é assim introduzido dentro o edifício. Esta técnica é conhecida desde os anos 30 e foi executada em inúmeros edifícios por arquitectos portugueses em Africa, local onde os recursos financeiros eram reduzidos mas onde o conforto era uma prioridade.

O exemplo da arquitectura portuguesa dos anos 60
O arquitecto Francisco Castro Rodrigues é um exemplo extraordinário da implementação de uma climatização ecológica. Analisemos o caso do Liceu do Lobito. Aqui a fachada sombreada cria zonas de baixa temperatura e diferente pressão que permitem arrefecer a escola. A ventilação transversal faz o resto do trabalho de renovação de ar. Nenhum sistema ou equipamento mecanico é utilizado. Apenas o engenho de com poucos recursos, climatizar o edifício. è preciso seguir os exemplo do tempo em que a ecologia não era um luxo mas uma necessidade financeira e técnica. Estas lições não se podem perder. 

 Liceu no Lobito - Fachada com palas horizontais
Arquitecto Francisco Castro Guedes - Liceu no Lobito

 Liceu no Lobito - Fachada sombreada
Climatização ecológica - Liceu no Lobito
Ventilação transversal ecológica do Liceu do Lobito

27/03/2019

Coliving e Coworking


O que é o coliving e o coworking


Para entendermos bem o que é o coliving e o coworking temos de ir por partes pois o seu impacto na arquitectura sustentável é extremamente elevado. Julgo que é chegada a altura de falar um pouco sobre algo que promete transformar as nossas cidades e sociedades nas próximas décadas.
O coliving e o coworking é uma forma nova de nos relacionarmos entre todos e um novo modo de organizarmos os espaços. Nasce com a economia partilhada e o seu impacto económico, social, político e ambiental será enorme.

A economia partilhada enquanto berço do coliving e coworking


As recentes alterações sociais abriram caminho a novos conceitos de habitar as cidades e os espaços. O contexto onde tudo começa é de facto a economia partilhada. Para aqueles que não sabem a economia partilhada surge mais intensamente com o aparecimento da internet e a sua generalização. Com a rede global começaram a surgir as primeiras plataformas de partilha, inicialmente de cariz alegadamente social e mais tarde transformam-se em grandes fontes de lucros. Recordo o conceito de couchsurfing onde a airbnb nasce. Na realidade, as pessoas habituaram-se a partilhar, a vender usado, a reutilizar os seus produtos colocando-os novamente no mercado.
Com estes processos a decorrer a sociedade passou a achar normal receber um estranho em casa, fazer disso fonte de rendimento e inclusivamente viajar e ficar em casa de alguém desconhecido simplesmente para baixar o custo da viagem ou conhecer experiências autênticas. No fundo a partir de agora toda a sociedade passa a conviver bem com a ideia de estar num espaço privado em conjunto com outras pessoas que não fazem parte do nosso circulo de conhecidos.

Coliving
O coliving é o acto de viver partilhando um espaço. Surgiram assim recentemente novos espaços, por vezes adaptados de edifícios existentes que oferecem estadia aos seus clientes ou utilizadores partilhando as zonas comuns. No fundo o cliente ou utilizador partilha as salas e cozinhas e o seu espaço privado resume-se ao quarto. Este conceito deixou de ser um explusivo do turismo e passou a ser usado para vida do dia-a-dia.

Coworking
O coworking é uma forma imediata de aplicar o conceito de espaço partilhado aos serviços. No fundo as gerações mais novas, e os mais empreendedores em particular começaram a preferir alugar espaços em conjunto para trabalhar. Ora, aquilo que nascia como um recurso para poupar custos de renda rapidamente se tornou num produto procurado. Vários trabalhadores independentes e empreendedores preferiam trabalhar em escritórios onde podem trocar ideias e partilhar soluções. O coworking passa assim a ser um produto procurado. O utilizador paga uma infraestrutura e acede à partilha do espaço com outros utilizadores.

Cohousing
O cohousing é a institucionalização do coliving. Surgem edifícios exclusivamente destinados à habitação já com o propósito de partilha dos espaços comuns. Surgem assim adaptações para residências de estudantes ( destinadas ao segmento universitário), residências seniors ( destinadas aos mais idosos) , residências assistidas ( destinadas aos mais velhos com necessidade de cuidados especiais), entre outros.

Consequências do coliving e coworking


É chegada a altura de verificar então que consequências podemos esperar a nível social, urbanístico, político e ambiental.
Sociedade
O coliving é no fundo a demonstração que a sociedade de hoje é bastante mais complexa. A família deixou de ser o único modo de organização do espaço da habitação. Se a revolução industrial alterou a relação do trabalho e a família, a economia partilhada alterou assim a relação entre família e habitação.

Urbanismo
As nossas cidades eram constituídas por unidades familiares: a casa, o apartamento, o prédio de apartamentos, os bairros de casas. Sobre esse tecido erguiam-se edifícios colectivos e singulares: o palácio, o hospital, o museu, a igreja, o tribunal. com o coliving a habitação evoluirá para edifícios cada vez mais complexos que englobam a partilha dos espaços. A cidade torna-se mais complexa e multifacetada. Com o coworking os espaços de trabalho vão tornar-se colectivos no uso.

Política
Algumas tensões poderão surgir. Se por um lado os promotores do coliving e do coworking foram entidades privadas, rapidamente os estados começaram a intervir e a promover os seus próprios espaços de coliving e coworking. Isso significa que um novo campo de batalha política surgirá entre senhorios e arrendatários e com os estados à mistura. Será uma batalha em tudo idêntica ao que se passa hoje no mercado de arrendamento entre fundos, private equities, empresas particulares e estados... Simplesmente a batalha desloca-se da casa para o cohousing.

Ambiente
Para o ambiente o coliving e o coworking é uma oportunidade enorme para construir uma arquitectura mais sustentável. Partilhar espaços significa que podemos ter custos muito mais reduzidos na construção, manutenção e utilização dos locais. E custos energéticos reduzidos são também bons para o ambiente. Se a economia partilhada de objectos permitiu prolongar a vida dos objectos mantendo-os no mercado de consumo sem serem produzidos novos ou enviados para o lixo, gerando assim consideráveis melhorias ambientais, podemos dizer que o coliving e o coworking possibilitarão enormes poupanças ambientais na exacta medida em que pouparemos também recursos do nosso planeta.

A oportunidade para a arquitectura sustentável


É importante que os arquitectos tomem consciência destes processos e no fundo aproveitem para desenvolver projectos que possam:
- gerar retorno aos investidores, sejam eles públicos ou privados
- criar espaços de qualidade promotores de conforto para todos
- poupar recursos ambientais através das novas economias de escala dos espaços




Projecto Urbanístico com Coliving, Coworking e Cohousing