Enquanto arquiteta, a questão que muitos clientes me colocam parece clara:
- Como obter uma casa energeticamente eficiente?
A pergunta é clara mas a resposta não é simples.
Em primeiro lugar convém desfazer um mito de que o certificado energético é um indicador aceitável para concluir da eficiência energética de um edifício. Lamentavelmente isto é falso. O certificado energético não é um elemento fiável para aferir se uma casa poupa ou não o consumo de energia para um determinado desempenho.
E muitos clientes perguntam-me:
-O que é o certificado energético? Qual a definição então da certificação energética?
O certificado energético corresponde a uma classificação energética que é atribuída segundo um método de cálculo rigoroso que tem em linha de conta fatores fundamentais para a eficiência da casa ligadas à construção como a orientação, paredes, pavimentos, coberturas, portas e janelas. Mas também tem outros fatores como a existência ou não de aproveitamento de energias renováveis, a forma e sistemas de ventilação (natural ou mecânica), a eficiência e o tipo de combustíveis usados nos sistemas de climatização e de produção de águas quentes sanitárias (AQS). E é precisamente este último grupo de fatores que eu coloco em causa.
Ora, como podemos aceitar que a introdução de um equipamento como um ar condicionado que efetivamente consome energia consegue de um modo praticamente imediato fazer subir a classificação em uma categoria, como por exemplo de C para B ou de B para A?
Se é certo que consome mais que um aquecedor a óleo, então o que efetivamente deveria ocorrer era considerar que um ar condicionado prejudica menos a eficiência energética que um aquecedor a óleo que funciona sobre a lei de joule.
Na realidade os fatores que descrevi como da construção são os únicos que deveriam servir para melhorar o comportamento térmico e energético de um edifício. Os segundos fatores poderiam ser utilizados de uma forma mais correta para melhorar o comportamento térmico pois libertam calor ou frio mas ao mesmo tempo prejudicam o comportamento energético pois consomem mais energia.
Na realidade as razões deste equívoco entre energia e térmica residem no parlamento europeu. Aí temos que confessar que os grandes grupos de pressão ligados à climatização fizeram o seu papel e a sociedade civil não produziu o escrutínio suficiente e fez com que hoje os estados estejam condicionados por um embuste: chamar certificação energética a algo que mistura o comportamento térmico com o comportamento energético.
Naquilo que me diz respeito, e como arquiteta, cabe-me desenhar casas ou edifícios eficientes energeticamente e termicamente, isto é, que por uma lado gastem pouca energia (energeticamente falando) e que por outro sejam confortáveis (termicamente falando) independentemente das classificações cientificamente equivocadas que lhes queiram atribuir. Porque infelizmente temos que confirmar que demarcou-se uma distância bastante grande entre aquilo que é cientifico e aquilo que é legalmente publicado pelo parlamento europeu e que os estados membros têm de transcrever e fazer cumprir.